terça-feira, 3 de agosto de 2010

A Fábrica de Gravatas: Relatos de confinamento (7° dia)


Engrenagens de uma esteira que estamos montando

Textura das vigas de sustentação da Fábrica


Muitas coisas ocorreram nestes dias que não escrevo. São tantas que não comportaria todas neste texto. Seria necessário algo muito longo, cansativo e retórico para chegar o mais próximo possível (ainda que distante) do vivido, experimentado e discutido.

Interessante como, a partir do momento que decidimos escrever sobre o cotidiano, percebemos o quão heterogêneo e complexo ele se apresenta. São diversas as cenas que classificamos como atraentes, como dignas de serem escritas. Mas basta sentar diante do computador que as ideias correm, fogem, mesclam-se, tornam-se difusas. Principalmente pela estafa que enfrentamos, pois estamos trabalhando todos os dias das 0h as 10h da manhã. No início essa carga horária se apresentou cansativa, entretanto, agora, depois de uma semana de trabalho, estamos completamente habituados.

Desses dias, lembro-me perfeitamente do tombo do leitor de DVD de Renato, que ricocheteou duas vezes pelo chão, no dia em que estávamos montando os computadores, logo no início do processo. Nossas faces foram de susto, com medo de que tivesse sido os últimos estalos de vida daquele hardware. Felizmente, depois de montar, tudo estava funcionando perfeitamente. Foi somente um pequeno alarde que terminou bem.

O que dizer então quando vimos a qualidade do cromaqui em que havia sido feitas as filmagens? Algo terrivelmente irregular, com presenças de sombras que eliminavam toda e qualquer uniformidade do fundo. Tentamos de um jeito, corremos para o outro lado, mas nada! O resultado não chegava perto do que almejávamos.

Pensamos em resolver o problema do croma utilizando a técnica de trabalhar quadro-a-quadro, imagem-a-imagem. Porém, era uma solução árdua, que gerava uma infinidade de imagens a serem tratadas digitalmente. Para se ter uma noção, para cada segundo de filme, teríamos 60 imagens estáticas. A quantidade de frames (imagens) em dez minutos seria algo em torno de trinta e seis mil imagens. Tarefa impossível de ser realizada por duas pessoas em um mês.

Devido a isso, desenvolvi uma técnica no Photoshop que permitia bons resultados em poucos segundos, mas ainda assim seria impensável utilizá-la. Escolhemos então reduzir a rotação do filme para 18 frames (imagens) por segundo, a mesma velocidade utilizada nos antigos filmes do Charles Chaplin. Além de proporcionar ao curta um aspecto retrô, diminuía drasticamente a quantidade de imagens a serem tratadas. Cansados de tentativas e experimentações, fomos dormir às 10h da manhã convictos de que a técnica do quadro-a-quadro era a melhor forma de preservar a qualidade estética do filme, embora também a mais trabalhosa.

Tive folga no final do dia seguinte, pois precisei ir a uma reunião com o pessoal do Museu Interativo do Semiárido. Depois de resolver estes detalhes, aproveitei para resolver outros, de cunho ainda mais particular. Encontrei as pessoas que precisava, me descontrai e descansei muito.

Ao voltar na sexta-feira à noite (30/07), Renato simplesmente me mandou sentar em sua cadeira e mostrou-me um teste que havia feito. Achei o resultado maravilhoso. O movimento ainda permanecia com 18 frames por segundo, mas a grande sacada dele foi utilizar as sombras do croma para dar um efeito de película ao filme. Juntando o movimento de 18 frames às “manchas” das sombras, temos a sensação de que estamos diante de uma produção do início do século XX. Fiquei emocionado com o resultado, ao passo que também aliviado, porque eliminava a possibilidade de trabalhar quadro-a-quadro com milhares de imagens!

Depois da euforia da definição da técnica – pois, automaticamente após resolver o problema do croma havia sido estabelecida a técnica a ser aplicada - passamos a montar os elementos do cenário. Estamos produzindo, neste momento, o interior da fábrica que dá nome ao curta-metragem. No todo, o filme conta somente com dois grandes cenários: um deserto com imensas figuras geométricas (inclusive a Fábrica de Gravatas) e o interior da fábrica. O curta-metragem “bruto” já está em processo avançado de edição, com as cenas dos atores na devida seqüência narrativa, pois só vamos acrescentar os cenários depois dele todo montado.

Passei então a construir engrenagens e texturas para Renato montar e animar uma esteira que será fundamental no cenário do interior da fábrica. Iremos agora, pouco a pouco, criar os outros objetos e elementos dos cenários digitais, num trabalho de Direção de Arte Digital. Estamos eufóricos com o processo. Agora que decidimos a técnica e o problema do croma, podemos calmamente sentar e fazer detalhadamente a planilha com as datas e etapas do processo de produção. Estamos seguindo adiante, num bom ritmo e muito mais tranquilos.

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