terça-feira, 17 de março de 2009

Milhões de Baratão

Sei que estou bastante ausente do blog. Porém, contraditoriamente, nunca desenhei tanto o Baratão em toda minha vida! Como já anunciei por aqui, estou trabalhando em um curta de animação com o personagem Baratão como protagonista. Devido a isso, fico sem tempo e sem idéias para fazer novas tirinhas.
Mas assim que tiver uma brecha, vou terminar a série "A guitarra do Diabo" com a nossa barata. Além de voltar a postar novas tirinhas do Fofinho & Fofinha, Profissão Profissionais, Josivaldo entre outros.
A animação contará com diversas referências. Entre elas, temos Mstislav Dobuzhinsky, um grande ilustrador russo, que já teve o prazer de ilustrar romances do Dostoiévski.
Suas paisagens são belíssimas, tão perfeitas que estou usando algumas como cenário da animação. Logo abaixo temos um dos cenários que estarão presente no filme: um local já conhecido dos amigos do Baratão, ou seja, a entrada do bar do Adão.
Bom, por enquanto é só. Logo logo volto a postar tirinhas com alguma frequência. Abraços!

(entrada do bar do adão)

(ilustração de Mstislav Dobuzhinsky)

segunda-feira, 16 de março de 2009

Entrevista com Ferreira Gullar


"A Poesia Surge do Espanto"

De repente, quando se ergue da cadeira, o poeta percebe que o fêmur de uma perna resvala no osso da bacia. Aquilo o intriga. “É desse tipo de surpresa que nasce um poema”, diz Ferreira Gullar

Por Armando Antenore


Certa manhã, enquanto fazia recortes para novas colagens, notou que umas tiras miúdas de papel salpicavam o piso da sala. Mal se abaixou com a intenção de recolhê-las, viu que formavam um desenho abstrato. A figura inusitada e bela surgira de modo espontâneo, à revelia de qualquer pretensão estética. O escritor, hipnotizado, apanhou os pedacinhos de papel e os fixou em uma cartolina amarronzada exatamente da maneira como caíram no chão. Batizou o trabalho de Por Acaso, Puro Acaso. Quem percorre o apartamento carioca logo avista a composição pendurada numa nesga de parede e um tanto oprimida pelas dezenas de outros quadros e gravuras que decoram o imóvel — a maioria de artistas tão míticos quanto Iberê Camargo, Rubem Valentim, Oscar Niemeyer e Marcelo Grassmann. "Todos bons amigos", comenta o dono da casa, com um híbrido de displicência e orgulho.

O episódio dos papéis revela muito sobre o jeito de o poeta enxergar a vida e o ato criativo. Para o autor do célebre Poema Sujo, viver (ou criar) é o resultado de um diálogo contínuo entre o arbítrio e o inesperado, a ordem e a desordem, a necessidade e o acaso. O assunto veio à tona numa tarde abafada de fevereiro, ao longo da conversa de três horas que Gullar manteve com BRAVO!. O apartamento de Copacabana, silencioso àquela altura do dia, serviu de cenário.

Viúvo, o maranhense namora a poetisa gaúcha Cláudia Ahimsa. Ele a conheceu durante a Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, em 1994. Pouco tempo antes, amargara a morte da mulher, Thereza Aragão, e de um dos três filhos, o caçula Marcos. Inspirado pela atual companheira, escreveu os versos "Olho a árvore e já/ não pergunto 'para quê?'/ A estranheza do mundo/ se dissipa em você".

BRAVO!: O senso comum costuma apregoar que poetas nascem poetas. Poesia é destino?

Ferreira Gullar: Prefiro dizer que é vocação. O poeta traz do berço um modo próprio de lidar com a palavra. Não se trata, porém, de um presente dos deuses, de uma concessão divina, como se pregava em outras épocas. Trata-se de um fenômeno genético, biológico, sei lá. Há quem nasça com talento para pintar, jogar futebol ou roubar. E há quem nasça com talento para fazer poemas. Sem a vocação, o sujeito não vai longe. Pode virar um excelente leitor ou crítico de poesia, mas nunca se transformará num poeta respeitável. Quando um jovem me mostra originais, percebo de cara se é ou não do ramo. Leio dois ou três poemas e concluo de imediato. Por outro lado, caso o sujeito tenha a vocação e não trabalhe duro, dificilmente produzirá um verso que preste. Se não estudar, se não batalhar pelo domínio da linguagem, acabará desperdiçando o talento. "Nasci poeta, vou ser poeta." Não, não funciona assim. Converter a vocação em expressão demanda um esforço imenso. Tudo vai depender do equilíbrio entre o acaso e a necessidade. A vocação é acaso. A expressão é necessidade. Compreende a diferença? No fundo, a vida não passa de uma constante tensão entre acaso e necessidade.

Nada escapa desse binômio?

Nada. O que faz o homem sobre a Terra? Luta para neutralizar o acaso. Eis a principal necessidade humana: driblar o imprevisível, a bala perdida. Concebemos Deus justamente porque buscamos nos proteger da bala perdida. Deus é a providência que elimina o acaso. É o antiacaso.

Você não crê que Ele exista?

Gostaria de acreditar, mas não acredito. Uma pena... Poucas crenças podem ser mais reconfortantes do que a fé em Deus. Ele enche de sentido as nossas vidas sem sentido. "Eu não sou cachorro, não!", cantava o Waldick Soriano, lembra? Uma frase sugestiva, já que os homens realmente não se veem como cachorros. Os homens anseiam uma condição sublime. Não à toa, inventaram Deus: para que Deus os criasse. Se você pensar direito, todas as coisas abstratas ou concretas que a humanidade constrói têm a intenção de dar significado à vida — e, não raro, um significado especial. Nós, que frequentemente praticamos atos injustos, inventamos a justiça. Por quê? Porque desejamos ser melhores do que somos e tornar menos insolúvel o mistério de viver. A arte surge pelo mesmo motivo.

Conclui-se, então, que o poema também almeja dar significado à vida.

O poema nasce do espanto, e o espanto decorre do incompreensível. Vou contar uma história: um dia, estava vendo televisão e o telefone tocou. Mal me ergui para atendê-lo, o fêmur de uma das minhas pernas bateu no osso da bacia. Algo do tipo já acontecera antes? Com certeza. Entretanto, naquela ocasião, o atrito dos ossos me espantou. Uma ocorrência explicável de súbito ganhou contornos inexplicáveis. Quer dizer que sou osso?, refleti, surpreso. Eu sou osso? Osso pergunta? A parte que em mim pergunta é igualmente osso? Na tentativa de elucidar os questionamentos despertados pelo espanto, eclode um poema. Entende agora por que demoro 10, 12 anos para lançar um novo livro de poesia? Porque preciso do espanto. Não determino o instante de escrever: "Hoje vou sentar e redigir um poema". A poesia está além de minha vontade. Por isso, quando me indagam se sou Ferreira Gullar, respondo: "Às vezes".

A falta de controle sobre o ato de escrever o angustia?

Não, em absoluto. A experiência de criar um poema é maravilhosa. Mas, como não depende inteiramente de mim, sei que corro o risco de nunca mais vivenciá-la. Se parar de fazer poesia, vou lamentar — só que não a ponto de disparar um tiro na cabeça. Nenhum poema, de nenhum poeta, me parece imprescindível. Dante Alighieri poderia não ter escrito A Divina Comédia. Ou poderia tê-la escrito de outro jeito. Novamente: tudo se subordina à lei do acaso e da necessidade.

Um poema deve sempre emocionar?

Sim, deve emocionar primeiro o poeta e depois o leitor.

O pernambucano João Cabral de Melo Neto, com quem você conviveu, pensava diferente, não? Ele preconizava uma poesia menos emotiva.

João Cabral gostava de mentir! (risos) Pegue o poema O Ovo de Galinha e veja se aquilo não comove o leitor. Você acha que o João também não se comoveu ao escrevê-lo? Lógico que se comoveu! Na verdade, João recusava a ideia de o poeta transformar a poesia em confessionário, em objeto do sentimentalismo. Daí proclamar que o poema tinha de ser uma construção intelectual. A razão lhe serviu de bússola. No entanto, paradoxalmente, inúmeros de seus versos não resultaram tão frios. À medida que o tempo passa, o João se revela cada vez mais complexo, uma soma de contradições — o que, no fim das contas, só aumenta a grandeza dele.

Você concorda quando os críticos apontam o Poema Sujo, de 1975, como sua obra máxima?

Difícil responder. Não me debrucei profundamente sobre o assunto... O Poema Sujo é, de fato, o que reúne o maior número de interrogações e descobertas — em parte, pela extensão (os versos se espalham por quase 60 páginas); em parte, pela febre criativa que me assaltou enquanto o redigia. Entre maio e outubro de 1975, fiquei imerso no que classifico de "estado poético". Nada me tirava daquele clima. Eu comentava, brincando, que me tornara uma espécie de rei Midas. Tudo em que botava a mão virava ouro, tudo virava poesia. Foi uma fase excepcional. Para mim, porém, trabalhos mais recentes podem ter importância idêntica à do Poema Sujo, por exprimirem reflexões novas, algo que não me ocorrera dizer antes.

Uma parcela da crítica sustenta que você é o maior poeta brasileiro vivo. É mesmo?

Imagine! E como se mede o tamanho de um poeta?, já perguntava Carlos Drummond de Andrade. Que régua consegue dimensionar um negócio desses? Claro que, quando escuto uma avaliação do gênero, me envaideço. Mas não me iludo. Cada poeta, vivo ou morto, é inigualável. O João Cabral, o próprio Drummond, o Vinicius de Moraes, o Mário Quintana nos transmitiram um legado riquíssimo. São inventores de um universo muito pessoal e insubstituível. Sem mencionar o Murilo Mendes, autor de pérolas tão lindas quanto "A mulher do fim do mundo/ Chama a luz com um assobio".

Poeticamente, você jamais permaneceu num único lugar e sempre procurou a renovação. Em contrapartida, como crítico, acabou recebendo a pecha de conservador, por rejeitar diversas manifestações da arte contemporânea. O rótulo o incomoda?

Não, não me incomoda. Nesta altura do campeonato, quando o vale-tudo se apoderou das artes plásticas, a qualificação de "conservador" perdeu sentido. Conservador por quê? Por diferenciar expressão e arte? No meu entender, toda arte é expressão, mas nem toda expressão é arte. Se me machuco e grito de dor, estou me expressando; não estou produzindo arte. Da mesma maneira, se alguém começa a bater numa lata, emite sons; não cria música. O filósofo francês Jacques Maritain, católico, afirmava que a arte é "o Céu da razão operativa". Ou melhor: é o ápice do trabalho humano. Arte, portanto, pressupõe o "saber fazer". Saber pintar, saber dançar, saber esculpir, saber fotografar, saber tocar, saber compor. Tal critério prevaleceu durante milhares de anos, desde as cavernas até o advento das vanguardas, no final do século 19, período em que se questionou o "saber fazer". Pois bem: sob a minha ótica, a preocupação vanguardista é um fenômeno que se esgotou. Por milhares de anos, a arte seguiu adiante sem ligar para o conceito de vanguarda. Ninguém me convencerá de que, em pleno século 21, crucificar-se na traseira de um Fusca, deixar-se filmar cortando a vagina ou masturbar-se numa galeria equivale a um gesto artístico. Segundo o norte-americano John Canaday, historiador da arte, os críticos de hoje temem repetir o erro cometido pelos críticos do século 19, que não compreenderam os impressionistas. Em consequência, assinam embaixo de qualquer bobagem que levante a bandeira do "novo". Percebe a armadilha? Caso três ou quatro artistas resolvam espremer uma bisnaga de tinta no nariz de um crítico, ouvirão dele que praticaram um ato inovador. Definitivamente, não penso desse modo.

Nos tempos de militância comunista, você usou a poesia com fins políticos. O engajamento dos poetas ainda se justifica?

Não, de jeito nenhum. Os poetas, agora, irão se engajar em quê? No socialismo ridículo do Hugo Chávez? Foi um engano imaginar que versos contribuiriam para a revolução social. Admito que um poema consiga iluminar o leitor, consiga lhe abrir a cabeça. Mas daí a mudar a sociedade... Muito complicado! Abandonei todos os mitos daquela época. Não creio mais em luta de classes. Já aprendi que o capitalismo é como a natureza: invencível.

E a crise econômica que o mundo enfrenta atualmente? Não põe o capitalismo em xeque?

Sem dúvida atravessamos um momento delicadíssimo. Mesmo assim, estou convicto de que o capitalismo resistirá. Trata-se apenas de mais uma crise num sistema que vive de crises. Repito: o capitalismo vai imperar porque segue a lógica da natureza. É brutal, é feroz, é amoral. Não demonstra piedade por nada nem por ninguém. Em compensação, nos oferece uma série de benefícios. O capitalismo, à semelhança da natureza, se desenvolve espontaneamente. Não precisa que meia dúzia de burocratas dite o rumo das coisas, como acontecia nos regimes socialistas. Em qualquer canto, há um cara inventando uma empresinha. De repente, no meio deles, aparece um Bill Gates. São multidões em busca de dinheiro! Impossível deter uma engrenagem tão eficiente. Podemos, no máximo, brigar para que as desigualdades geradas pelo capitalismo diminuam. Aliás, convém que briguemos. Não devemos abdicar de um mundo mais justo, ainda que capitalista.

Como você avalia o governo Lula?

Avalio mal. O Lula é um grande pelego. Sabe aquele indivíduo que se infiltra nos sindicatos para amortecer os conflitos entre trabalhadores e patrões? O Lula age exatamente assim. Por um lado, agrada os banqueiros e os empresários. Por outro, corrompe o povão com programas assistencialistas. Posa de líder popular, e a massa o aplaude. Viva o pai dos pobres! Resultado: todo mundo confia no Lula, o rico e o miserável. Em decorrência, as tensões sociais se diluem. Que maravilha, não? Um país de carneirinhos...

Em setembro de 2010, você completa 80 anos. Sente-se realizado?

Olha, a vida é uma cesta em que, quanto mais se põe, mais se deseja colocar. Estamos sempre partindo do zero. Hoje pinto um quadro ou termino de ler um livro. Fico satisfeito. Mas, amanhã, me pergunto: e agora?

segunda-feira, 2 de março de 2009

O falecimento do Encontro para Nova Consciência e o fracasso da alteridade?

(Metamorfose de Narciso - Salvador Dali)


O falecimento do Encontro para Nova Consciência e o fracasso da alteridade?
Artigo publicado no site de notícias Paraíba Online


Conceituamos o Outro como tudo aquilo que não reconhecemos em nós mesmos. Aquela massa corpórea e excêntrica capaz de nos surpreender a qualquer momento, exatamente pela estranheza que transborda. Ele pode ser facilmente identificado pelos seus erros, por seus valores ineptos, por suas crenças absurdas. Sua estética é ancestral, seus costumes ultrapassados. No Outro encontramos valores que estão distantes de nós, prazeres que nunca poderemos experimentar. Por isso mesmo que não revelamos, mas o Outro secretamente provoca desejo, admiração e inveja.

Curioso como não percebemos, mas o Outro é, essencialmente, idêntico a nós; como reflexo de espelho turvo, que dissolve os detalhes e deforma seu resultado final. E ser idêntico, neste caso, não significa ser igual, mas também possuir valores, culturas e costumes excêntricos, não naturalizados. Ser todo aquele conjunto complexo que enxergamos sempre que estamos diante do Outro. Neste caso, o caminho da alteridade, do altruísmo e do ecumenismo não deveria partir do principio de que o Outro também é igual a Você. É preciso que se entenda que, na verdade, Você é tão diferente, complexo e estranho quanto o Outro.

Seria preciso um pouco de distanciamento para entender o que afirmamos. Olhando-nos de longe, veremos o quanto podemos nos apresentar estranhos aos nossos olhos, principalmente quando reproduzimos, de forma mecânica, um cotidiano miserável do ponto de vista existencial, porém, exigente temporalmente. Caminhamos mais como quem corre, tropeçando indiferentes em mutilados e esfarrapados que suplicam nossa atenção em troca de uma moeda. Mas no fim, todos queremos ser vistos, seja pela roupa caríssima que possuímos, pelo forte odor de nossos perfumes importados ou pelos novos seios emborrachados e enormes, que exibimos escondidos atrás de um lindo decote.

Tantas letras dedicadas ao tema do Outro tem um fundamento: O Encontro Para a Nova Consciência, ou quem sabe, seu falecimento. Nascido em 1992, o Encontro tinha como principal proposta discutir a defesa da diversidade, do altruísmo e do ecumenismo. O Outro, definitivamente, passou a ser o cerne das discussões nas palestras e cursos ministrados durante o evento. Sendo realizado no período de carnaval, acabou por virar uma opção para todos aqueles preocupados com a situação e os problemas do homem, ou para aqueles que não estavam dispostos a enfrentar os festejos de carnaval dos grandes centros.

O que inicialmente causou grande euforia, tendo sido inclusive divulgado em diversas mídias nacionais, revelou toda dificuldade que é manter um evento voltado para a discussão da relação pacífica entre os seres humanos que partilham de visões de mundo antagônicas. Se no primeiro ano do evento houve um amistoso abraço entre o Bispo de Campina Grande, Dom Luis Gonzaga Fernandes e o Pastor presbiteriano Nehemias Marien, nos anos seguintes a desunião aparentou ser mais forte. Logo surgiu um encontro separado somente para os protestantes chamado Encontro Para a Consciência Cristã e outro para católicos, o Crescer. Ficaria claro o conservadorismo local, e as religiões, filosofias e ciências que tiveram grande espaço no primeiro ano do evento, acabaram por serem ofuscadas e atacadas pelo crescente número de pessoas que encorpavam estes eventos paralelos.

Une-se a isso a falta de dinamismo e organização no que se refere à programação, que seguiu semelhante nos dezoito anos em que agoniza o evento. Figurinhas carimbadas estavam sempre presentes, o que tornava as discussões maçantes e seu progresso distante. O que inicialmente era novidade, atraindo atenção por seu ineditismo, acabava por ser tornar algo corriqueiro, embotado pelos vícios sociais, pelos apadrinhamentos e pelos comodismos provincianos.

A programação cultural já se poderia ser adivinhada meses antes do início do Encontro, sem muitos esforços, apenas por dedução. É certo que sempre se cogitava nomes de atrações nacionais, entretanto, possuíamos a certeza que outra vez estaríamos embriagados e cantando junto ao Cabruêra, com as mesmas olheiras dos padres gregorianos que sonham em entoar algo novo algum dia.

Mas o Encontro ainda não sucumbiu totalmente. Tenhamos otimismo. Falta somente alargar os horizontes das parcerias, buscar apoio em outros setores, acabar com a dependência cômoda dos patrocínios exclusivos das políticas locais. Um evento com uma proposta tão grandiosa não encontrará dificuldades em conseguir verbas para sua realização, seja da iniciativa privada ou mesmo das grandes estatais, como Petrobrás, Eletrobrás, Caixa, Banco do Brasil, entre tantos outros.

A Nova Consciência já deveria estar latente em nossa sociedade depois de dezoito anos de Encontros. Porém, o que observamos é sua ausência, mais precisamente quando ocorrem situações como o ataque ao encontro de judeus neste ano, ou a queima de pneus pelos evangélicos na frente do Teatro Municipal no ano passado. Torna-se nítida a necessidade de resgatar a alteridade. É certo que podemos aprender com o desastre de 2009. No próximo ano, estaremos ávidos para que o Encontro Para a Nova Consciência cresça e assuma seu lugar merecido.

Porém, se o evento falecer de fato, podemos voltar a esvaziar a cidade neste período de carnaval para nos encontrarmos nas praias de João Pessoa, como sempre foi costume por aqui. Lá na capital, seremos efetivamente o Outro, causando estranhamento quando passarmos com nossas farofas e com o dorso e o rosto maltratado pela exposição intensa ao sol e ao mar, algo tão comum a nós campinenses nos dias em que sucedem as folias de carnaval.