sexta-feira, 14 de novembro de 2008



Eu admiro os pintores que buscaram escrever sobre suas próprias obras, mesmo antes ou depois de prontas. Podemos citar Salvador Dali, Paul Gauguin e Vincent Van Gogh, em cartas ao seu irmão Theo, publicadas postumamente. São artistas que dedicaram suas vidas à arte, deixando registrada uma parte dessa dedicação. Sabemos que o ato de escrever não é um fator essencial para o exercício de pintor, tanto que podemos encontrar facilmente pintores talentosos e analfabetos, porém, é um exercício fundamental para a compreensão do artista e de sua obra. Trata-se de sensibilidades diferentes, entretanto, as duas podem coexistir tranquilamente juntas no processo criativo de um pintor.
O discurso escrito pelo artista não é a única interpretação possível sobre sua obra. Diversas pessoas, portadoras de outras representações de mundo, entenderão à sua maneira esta mesma obra e darão significados que estavam ausentes em seu processo de criação. É o olhar do outro que (re)significará a obra, muitos intelectuais já se dedicaram a afirmar isso.
O problema é que na contemporaneidade, o discurso do artista assumiu um valor maior que sua própria obra. O que podemos chamar de Arte Contemporânea, baseia-se exatamente nesta supervalorização do discurso do artista em detrimento de seu trabalho. Desta forma, o importante não seria a obra, e sim a idéia que permeou toda a sua concepção. Influências de Marcel Duchamp (1887-1968), artista francês que viveu em Nova York e que revolucionou a noção de arte. O resultado disso tudo são as intervenções, as instalações e o mosaico de materiais colados sobre a frágil tela de pintura. Trata-se de uma arte pouco preocupada em ser compreendida, sem muita pretensão artística e baseada num discurso exterior a ela.
Esse discurso proferido pelo artista, para dar significação a um trabalho nitidamente sem significados, não chegará ao conhecimento da maioria dos contempladores de suas obras. Entretanto, certamente atingirá os ouvidos de quem interessa, ou seja, dos compradores. Ao efetuar a compra, eles levarão para sua casa não uma obra de arte, mas sim um mero objeto representativo, fruto das concepções de algum artista famoso. O quadro será disposto num lugar da casa onde suas cores combinem com algum móvel, certamente o sofá. Os diversos contempladores que passarão pelo local terão significados antagônicos sobre os sentimentos, emoções e frustrações que a obra lhes transmitirá. Todavia, é possível que todos estejam de acordo que, de fato, combina com o sofá.

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